Entrei no universo audiovisual ainda criança, pedalando uma bicicletinha do Mickey em um comercial de TV. Era o início dos anos 1990 e, sem saber, aquele set seria o primeiro de muitos.

Vieram dezenas de comerciais, muitas temporadas como Rafa do X-Tudo, peça com Paulo Autran e experiências em quase todos os cantos da produção. Cresci entre câmeras, bastidores e pessoas apaixonadas por contar histórias. E, com o tempo, entendi que essa vivência na frente das câmeras também moldaria completamente meu olhar profissional.

A experiência de ter sido ator me ensinou, antes de qualquer coisa, que um bom líder precisa saber ler o ambiente. Não adianta ter um bom roteiro ou uma ideia genial se as pessoas trabalham com medo ou se falta escuta entre as equipes.

A indústria criativa exige entrega, comprometimento e excelência, mas não à custa da saúde emocional de quem está ali fazendo tudo acontecer. Aprendi que respeito, empatia e confiança são fundamentos invisíveis, mas absolutamente concretos, de qualquer projeto de qualidade.

Como ator, tive o privilégio de circular por todos os departamentos e, com isso, entender a engrenagem do audiovisual como um todo. Aproveitei cada set para aprender com técnicos, produtores, figurinistas, diretores de arte etc.

Sempre vi valor nessas trocas,  tanto que muitos dos meus amigos e parceiros de trabalho nasceram nesses encontros.

Quanto mais se conhece e respeita os outros ofícios, mais sólido se torna o próprio trabalho.

Quando passei para trás das câmeras, levei comigo tudo isso: a escuta, o jogo de cena, o timing, a atenção ao outro. E percebi que um pitching, por exemplo, não é muito diferente de uma performance. É preciso presença, humor, empatia, verdade. Elementos que o ator treina em cena, mas que também fazem toda a diferença numa reunião com cliente, numa conversa com equipe ou numa tomada de decisão.

Gosto de pensar que um bom resultado nasce do jeito como as lideranças conduzem os processos. E essa energia vai muito além de fazer um set feliz: envolve confiança mútua, foco, liberdade criativa e responsabilidade.

Calibrar esse clima é parte essencial do papel de quem ocupa posições de liderança. Saber quando puxar e quando soltar o freio, quando ouvir mais do que falar. Parece simples, mas é delicado, mas sinto que minha experiência como ator me ajudou muito a  desenvolver essa sensibilidade.

Hoje, liderando projetos e equipes criativas, vejo o quanto essa base foi importante. A escuta de ator virou ferramenta de gestão. O improviso virou estratégia. A atenção ao outro virou metodologia.

Nada disso veio de curso ou manual, veio de conviver com gente generosa, em sets bons e ruins, e aprender na prática que a harmonia também é parte do resultado.

E tudo começou lá atrás, quando entrei pedalando uma bicicletinha Bandeirantes do Mickey num comercial de TV. Curioso pensar que, décadas depois, estaria justamente colaborando com marcas como a Disney, agora nos bastidores. Parece que, de algum jeito, estava mesmo no meu destino trabalhar com histórias, de qualquer lado da câmera.

Rafael Barioni é fundador e diretor criativo da Mood Hunter