O Brasil continua sendo o país da televisão e, mesmo diante do crescimento do digital, a TV ainda se mantém como a mídia com maior investimento publicitário. O ranking do Cenp-Meios do primeiro trimestre do ano mostra que a TV (somando TV aberta e por assinatura) concentrou 46,5% das verbas, num total de R$ 2,193 bilhões.
Mas, obviamente, a televisão não é mais a mesma e sua evolução desde que foi lançada em 1950 no Brasil se confunde com o progresso do próprio país. Da imagem em preto e branco para cor, passando pelo avanço da telenovela, dos programas de auditório e das transmissões esportivas, o audiovisual brasileiro ocupa o pódio dos melhores - a Globo é a segunda maior rede de televisão comercial do mundo.
E, há alguns anos, uma nova frente se abriu para marcas e publishers com as smart TVs e o surgimento dos canais fast (sigla para Free Ad-supported Streaming TV). Os fast channels têm a mesma lógica da TV aberta, por serem gratuitos, com programação linear e suportados por publicidade, trazendo a segmentação de conteúdo da TV paga. É, digamos assim, a união dos dois universos televisivos, com as vantagens do digital.
O resultado é que o telespectador passou a contar com um leque ainda maior de opções de entretenimento grátis. Para as marcas, é mais um ponto de conexão com o público, com a possibilidade de interação, já que a tecnologia embarca interatividade.
A consolidação dos canais fast deve levar algum tempo ainda, mas vem abrindo várias oportunidades de negócios para veículos tradicionais ou nativos digitais, que agora marcam presença na TV também. Jovem Pan, Pluto TV, UOL, Times Brasil e Caras TV são alguns dos grupos que apostam no modelo para ampliar sua distribuição, como mostra especial nesta edição.
Plataformas de TV conectada (CTV), como das fabricantes Samsung e TCL, fornecedoras de dispositivos e responsáveis por alguns dos fast channels no país, vêm surfando nessa onda. Segundo a mais recente edição da pesquisa da Comscore sobre TV Conectada no Brasil, 64% da população digital brasileira já consome conteúdo via CTV, o que corresponde a aproximadamente 84 milhões de pessoas. Para especialistas, os canais fast representam uma evolução da TV aberta, com os atributos do digital. “A fast TV combina a conveniência do streaming com o alcance da TV linear. É um conteúdo gratuito, suportado por anúncios, como na televisão tradicional, mas com a possibilidade de segmentação, algo que não era viável nos antigos modelos abertos”, ressalta João Oliver, professor da ESPM.
Apesar do discurso de que o consumidor não quer mais ser interrompido, a aceitação da publicidade tem se mostrado a alavanca para o avanço dos canais fast no país. De acordo com o levantamento da Comscore, metade dos entrevistados afirmou preferir um modelo gratuito com anúncios a pagar mais por um serviço sem interrupções.
Outro dado que reforça as vantagens do modelo para marcas é o alto índice de engajamento: 84% dos consumidores tomaram alguma ação após ver um anúncio em CTV, seja clicando, pesquisando ou comprando. O Brasil pode se tornar, até 2029, o terceiro maior mercado de fast no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Do lado do público, fica o desafio de ‘decifrar’ o controle remoto dos aparelhos. As opções de apps são inúmeras e bastante confusas para saber o que são canais abertos, pagos, fast ou serviços de streaming. Muitas vezes, é preciso navegar um tempo na tela até conseguir acessar o conteúdo desejado. Por outro lado, quem nunca foi surpreendido positivamente ao descobrir um canal que nem sequer conhecia antes?
Ou seja, cada vez mais, o poder de escolher o que, onde e quando acessar um conteúdo é do consumidor. Os canais fast reforçam a democratização da TV com acesso livre, sem nenhum tipo de assinatura, e permitem que marcas se conectem com o público de forma simples, escalável e integrada ao ambiente digital. E, certamente, muitos outros canais devem surgir nos próximos anos.
Frase
“O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação” (Oscar Wilde).
Armando Ferrentini é publisher do propmark